Quando Two Balls Não Quer Dizer Duas Bolas.

Há algum tempo, em um dia de Domingo, resolvi descer até a cidade baixa para relaxar um pouco, ver o pôr do sol (com acento diferencial e sem hífen!), tomar um sorvete na famosa sorveteria da Ribeira, que está lá desde 1931 e ainda atrai muitos baianos e turistas mesmo após a Fredíssimo e Frio Gostoso.

Entrei, escolhi os sabores e fui pagar.  Chegando à boca do caixa, ri baixinho pelo que eu vi escrito em minha frente:

One ball: R$2,5 Two balls: R$3,5.

Consegui a foto do caixa, mas a resolução é baixar, mas dá para ver as palavras em vermelho.
Caixa da Sorveteria da Ribeira (A Tarde Online)
 
Contudo, o que me fez rir não foi a tradução, e sim o que vi sobre a tradução. Um consumidor ousado e provavelmente esclarecido que, próximo às palavras em inglês, escreveu a correção: Scoop / Scoops.


É possível dizer ice cream ball, mas o ICE CREAM deveria estar junto da ball. Bem... a placa está em uma sorveteria, não seria óbvio? Sim, mas se pensarmos dessa forma, ninguém poderia mais escrever “Mangas: R$2 o kilo” no box de mangas no supermercado, não é verdade? Como será que o turista que fala inglês prontamente reagiria ao ver preço das balls? Será que a ficha cairia imediatamente? E se caísse, será que ele ironicamente não associaria ball a outra coisa?  I’ll play tennis now, could you please get my balls? Claro que estou falando das bolas de tênis.

Muitos empresários pouco esclarecidos sobre o trabalho do tradutor acabam fazendo uma tradução pelo Google ou até traduzindo por conta própria achando que falar inglês é saber traduzir inglês.

O exemplo que eu citei é peso pena perto do que já vi em panfletos e cardápios entre outros textos que circulam pelos roteiros turísticos. Um exemplo mais problemático foi o cartão postal com uma foto artística, em preto e branco, com a imagem de uma baiana (como aquela do acarajé) jovem, com um dos seios de fora e dormindo. Em português: Baiana Dormindo. Em inglês: Girl from Bahia sleeping. O impacto disso talvez seja o turista estrangeiro lendo a mensagem, generalizando a informação e achando que todas as meninas da Bahia durmam com os seios de fora, dessa forma banalizando e estigmatizando ainda mais a questão sexual no Brazil.

Uma tradução inadequada como essa pode contribuir para um entendimento errôneo da cultura local pelos “gringos”, refletindo uma falsa representação cultural que poderá ter um impacto negativo na construção da identidade local.

Penso que a falta de conhecimento dos empresários sobre o profissional de tradução e o papel desenvolvido por ele é o que o leva a contratar tradutores inexperientes, que acabam fazendo traduções como as que eu escrevi aqui. Por essa razão, já comentada em outra postagem, é extremamente importante que o tradutor pesquise bastante antes “bater o martelo” e tenha como prática em sua profissão não só o estudo sobre tradução, mas busca pelo conhecimento sobre língua e cultura.

Agora irei tomar um sorvete. Não vai ser em ball porque está melting.
 
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